A recente pesquisa do IBGE sobre os microempreendedores individuais (MEIs) no Brasil revela uma realidade preocupante: o crescimento desse grupo, que atingiu 14,6 milhões em 2022, reflete mais uma resposta ao desemprego do que um impulso genuíno de empreendedorismo. Embora o aumento de 11,4% no número de MEIs pareça positivo à primeira vista, a queda na participação relativa no total de ocupados, de 19,1% para 18,8%, sugere que o crescimento absoluto não está necessariamente ligado à expansão da economia ou à melhoria das condições de trabalho.
A pesquisa destaca que 72,1% dos MEIs ativos entre 2009 e 2022 tinham algum vínculo formal de trabalho, e, entre os que se registraram em 2022, 80,1% vieram do mercado formal, onde mais de 60% foram demitidos involuntariamente. Isso indica que a maioria se torna MEI por falta de alternativas viáveis de emprego. O microempreendedorismo, nesse contexto, é menos uma escolha e mais uma necessidade imposta por um mercado de trabalho que não oferece segurança ou estabilidade.
Além disso, a pesquisa revela que menos de 1% dos MEIsempregam um funcionário, o que demonstra a fragilidade desses negócios. Mesmo com o aumento no número absoluto de MEIs empregadores, de 104,1 mil em 2021 para 133,8 mil em 2022, essa proporção é insignificante diante do total de 14,6 milhões.
Essa realidade aponta para um microempreendedorismoque, longe de ser motor de inovação ou crescimento econômico, se configura como uma solução temporária e limitada para a sobrevivência. Em um país que precisa urgentemente de empregos formais e de qualidade, o aumento no número de MEIs por necessidade revela falhas estruturais profundas, que demandam políticas públicas eficazes e inclusivas.
Por Thiago Lira | @thiagoliracabral25
Economista e especialista em Análise de Dados