Neste final de ano, a alta nos preços dos alimentos coloca um peso inesperado e alarmante sobre o orçamento das famílias brasileiras, principalmente as de baixa renda. Estima-se um aumento de pelo menos 1% ao mês na inflação dos alimentos no último trimestre, impulsionado pela alta na carne. Se no início de 2024 o consenso de mercado era de que a comida subiria cerca de 4%, hoje a realidade aponta para uma inflação de mais de 7% neste grupo.
A alta nos preços da comida não ocorre isoladamente. A inflação dos alimentos é, de fato, maior que a dos demais produtos, mas agrava-se pela estagnação na remuneração básica da população. Esse cenário afeta diretamente famílias que já destinam uma fatia significativa de sua renda para alimentação, e a estimativa de que os gastos com alimentação e bebidas no Brasil ultrapassem a marca de R$ 1 trilhão este ano é um reflexo desse fardo financeiro.
O impacto é ainda mais notável nas camadas de menor renda. Segundo dados, em países de baixa renda, como o Brasil, sete em cada dez pessoas não conseguem arcar com uma dieta saudável. Ou seja, o aumento nos preços não é apenas um problema econômico: ele reflete uma questão social, na qual a segurança alimentar está cada vez mais comprometida.
A expectativa de safra recorde e o clima favorável para o ano que vem trazem um alento, mas os riscos permanecem. A cotação elevada do dólar torna os produtos importados, como o trigo, mais caros, impactando diretamente itens básicos como o pão. Além disso, a exportação de carne se torna mais atrativa para os produtores, diminuindo a oferta interna e pressionando os preços locais.
Essa combinação de fatores mostra que a inflação alimentar se estende além de uma simples questão de oferta e demanda: ela impacta a qualidade de vida e a saúde das famílias, sobretudo as mais vulneráveis. Nos próximos meses, políticas públicas focadas em minimizar o impacto inflacionário sobre os alimentos serão fundamentais para garantir o direito básico à alimentação e aliviar o peso que ameaça o sustento de milhões de brasileiros.
Por Thiago Lira
Economista e especialista em Análise de Dados.